Pelo menos 36% da população adulta do Piauí está endividada. É isso o que revela o levantamento Mapa do Endividamento produzido pelo Serasa e divulgado recentemente. O número expõe uma realidade delicada na qual cerca de um terço dos habitantes do Estado vivem: a situação de inadimplência e a incapacidade de manter as contas em dia. Os fatores que explicam esta situação são diversos: desde o aumento do custo de vida até o descontrole financeiro causado pelo consumo por impulso.
Em todo o Brasil, são 72,54 milhões de pessoas inadimplentes e a média de endividamento é de R$ 5.445,31 por pessoa. Significa dizer que 44,04% da população, ou seja, quase a metade do país, está endividada. São 273,24 milhões de dívidas atrasadas e o valor média de cada conta vencida é R$ 1.445,50. O valor total de endividamento da população brasileira, segundo o Serasa, é R$ 394,9 bilhões.
Quanto ao perfil dos endividados, 50,3% são mulheres e 49,7% são homens. Quem mais deve é a população na faixa etária de 41 a60 anos (35,2% das dívidas) e quem menos deve são as pessoas até 25 anos (11,8%).
O Piauí possui a menor taxa de endividamento do Brasil – Ceará (45,76%) e Tocantins (45,57%) respondem pelas maiores taxas – mas isso não significa que o dado não seja preocupante. Isso porque uma dívida atrasada se torna uma bola de neve que pode acabar levando à negativação do CPF e ao famoso “nome sujo na praça”. Com o nome sujo, o cidadão enfrenta uma série de obstáculos junto às instituições financeiras como dificuldade em obter empréstimos, financiamento e acesso a linhas de crédito. Em decorrência disso, o poder de compra reduz, o que pode acabar impactando a economia a longo prazo.
Lidar com o endividamento e até mesmo evita-lo é uma questão de planejamento e disciplina. Quem afirma é o economista Francisco Sousa. Hoje em dia as opções de consumo e formas de pagamento são tantas e tão atrativas que acabam levando as pessoas a comprarem itens sem necessidade e a “adquirir por impulso”. Para o controle financeiro, o especialista afirma que é preciso também preparo psicológico.
“É preciso controlar o consumo por impulso, o consumo apenas pelo fato de algo estar em promoção. É estabelecer para sua vida metas e prioridades, pensar inicialmente no custeio de suas necessidades básicas como alimentação, moradia, educação e transporte. O custo de vida é alto e somando-se com as necessidades básicas, acaba por comprometer bastante o orçamento”, explica o economista.
As maiores dívidas são aquelas contraídas com os bancos e cartões de crédito. Elas correspondem a 29,07% do total de contas atrasadas no Brasil. Em seguida aparecem as dívidas com contas básicas como água, luz e gás (22,13%), a dívidas com financeiras (17,54%) e as dívidas com os serviços e varejo (11,86%).
Forma rápida e mais segura de pagamento, o cartão de crédito se torna um dos vilões do orçamento do piauiense se não for usado com controle. O economista Francisco Sousa explica que o “dinheiro de plástico” pode passar uma falsa sensação de folga financeira, levar ao descontrole do consumo e, em um estágio final, a um descontrole financeiro.
“O cartão tem a facilidade de não ter que andar com dinheiro na carteira por comodidade e segurança. Mas também tem o efeito psicológico. Uma coisa é tirar o dinheiro da carteira e pagar a conta. Outra coisa é pagar no cartão. A sensação do dinheiro sair de sua posse com o pagamento em espécie é diferente de ir lá e pagar depois. Você sente que gastou e é diferente de ir lá e pagar depois. É importante frisar também que limite do cartão não é dinheiro a mais: uma pessoa que ganha R$ 3 mil e tem cartão com limite de R$ 3 mil não tem R$ 6 mil. É importante saber sua capacidade financeira e não gastar porque tem um cartão para usar indiscriminadamente”, orienta Francisco.
Mas no caso de a pessoa já ter contas em atraso, o economista diz que o importante é mostrar boa vontade em negociar e ao menos iniciar algum acordo possível de ser cumprido. Não adianta negociar uma dívida e simplesmente “empurrá-la para depois”. Vale sempre negociar, mas em valores e formas de pagamento que estejam dentro da realidade individual de cada um.
“Dependendo do nível de endividamento, é importante começar uma negociação conforme o valor da dívida. Ver o que pode ser feito em termos de receita. Não é negociar só para protelar. É buscar negociar com uma parcela que pode você pagar e iniciar um processo de organização. E você paga uma dívida para limpar seu nome, mas não necessariamente para poder fazer mais dívidas”, finaliza o economista.
Fonte: O Dia
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